Identificar se uma obra de arte é verdadeira ou falsa é uma das etapas mais complexas — e fundamentais — para qualquer colecionador, museu ou galeria. Trata-se de um processo que envolve tanto análise técnica quanto histórico-documental, e mesmo assim, nem sempre há consenso definitivo.
A seguir, explicamos os principais métodos usados para verificar a autenticidade de uma obra:
1. Proveniência (histórico da obra)
O primeiro passo é sempre o levantamento da proveniência, ou seja, o histórico de circulação da obra: de onde veio, em que coleções esteve, quando e onde foi vendida. Um bom histórico, com documentação confiável, já é meio caminho andado.
Uma ferramenta essencial nesse processo são os catálogos raisonné — publicações especializadas que reúnem todas as obras conhecidas de determinado artista, geralmente acompanhadas de imagens, dimensões, datação, técnicas e histórico de exposições. Eles funcionam como um “registro oficial” e são frequentemente consultados para confirmar se uma obra é reconhecida como autêntica pela comunidade especializada.
2. Análise técnica e de materiais
Imagem: um especialista trabalhando em uma pintura no Opificio delle Pietre Dure Sandro Vannini/CORBIS. Cortesia: Smithsonian Megazine.
A análise de materiais é uma ferramenta poderosa:
- Pigmentos e tintas são datados e analisados em laboratório. Uma tinta acrílica moderna em uma obra supostamente dos anos 1920, por exemplo, é um sinal claro de fraude.
- Suporte (tela, papel, madeira): o envelhecimento natural e a estrutura do suporte também dizem muito sobre a idade da peça.
- Técnicas de imagem como infravermelho, raio-X e luz ultravioleta ajudam a revelar camadas ocultas e possíveis alterações ou repinturas.
3. Estudo de estilo e linguagem visual
Especialistas em história da arte comparam a obra analisada com outras reconhecidamente autênticas do mesmo artista:
- A pincelada é compatível?
- A composição tem coerência com a fase do artista?
- Os traços e proporções seguem a lógica visual conhecida?
Essa análise depende de muita experiência — e não raro pode gerar divergências entre especialistas.
4. Assinatura (e sua limitação)
A assinatura é importante, mas nunca definitiva. Muitas falsificações reproduzem assinaturas idênticas às do artista. Por isso, ela deve ser considerada em conjunto com os demais elementos.
5. A opinião de especialistas
Por fim, especialistas e comitês de autenticação — ligados a galerias, museus, institutos ou famílias de artistas — podem emitir pareceres ou certificados.
Mas vale dizer: nem sempre há unanimidade. Em alguns casos, especialmente de artistas muito valorizados no mercado, há divergência entre especialistas, e a obra pode permanecer em uma zona cinzenta, sem conclusão definitiva sobre sua autenticidade.
6. Dica de documentário
Para quem deseja se aprofundar no tema, recomendamos o documentário "Fake Art – Uma História Real" (disponível na Netflix), que aborda a maior fraude de arte que aconteceu nos EUA, quando telas falsas de artistas como Pollock e Rothko foram vendidas por US$ 80 milhões.
Imagem: Ann Freedman, diretora da Galeria Knoedler, envolvida no escândalo retratado no documentário.
Conclusão
Autenticar uma obra de arte é um processo multidisciplinar, que envolve conhecimento histórico, sensibilidade estética e recursos técnicos. Ao adquirir uma obra, sempre busque informações, questione a procedência, desconfie de preços fora do padrão e conte com profissionais de confiança.