Imagem: Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret. Inaugurado em 1953, localizado no Parque do Ibirapuera, SP.

1. Surgimento: onde e como começou

O movimento Art Déco nasceu na França, em Paris, ainda antes da Primeira Guerra Mundial, mas alcançou sua forma mais clara com a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas de 1925 — evento que deu nome ao estilo.

Imagem: anúncio da exposição realizado na época.

Foi uma resposta ao Art Nouveau, que dominava o fim do século XIX e início do XX com linhas sinuosas, inspiração na natureza e ornamentos orgânicos. O Art Déco rompeu com essa fluidez naturalista e propôs uma nova estética: geométrica, racional e voltada ao progresso. Se o Art Nouveau celebrava flores, curvas e arabescos, o Déco exaltava ângulos, simetrias e abstrações, refletindo uma era marcada pela industrialização, pela aviação e pelo surgimento das metrópoles modernas.

Essa transição foi mais que visual — simbolizava uma mudança de mentalidade. O mundo deixava para trás a melancolia do romantismo e abraçava a confiança no futuro, nas máquinas e na produção em série.

Seu período áureo vai aproximadamente de 1925 até meados da década de 1930, antes de ser gradualmente substituído por formas mais funcionais da arquitetura moderna.

2. Principais agentes no mundo do Art Déco

O Art Déco foi um movimento plural, que uniu artistas, arquitetos, designers, joalheiros, ilustradores e escultores de diversos países.

Entre seus principais representantes estão:

- Émile-Jacques Ruhlmann, mestre do mobiliário em madeira com linhas puras e simétricas.

Imagem: Émile-Jacques Ruhlmann. Carvalho com folheado em jacarandá, 1925. 63,5 × 218,4 × 81 cm. Imagem cortesia Phillips Leilões.

- Jean Dunand, especialista em laca e metal, criador de painéis e objetos decorativos de precisão geométrica.

Imagem: Jean Dunand. Importante painel “Biches dans un sous-bois” para Madame Lina Yacoubovitch, Paris, cerca de 1929. Laca e ferro pintado. 246,4 x 242 cm. Imagem cortesia Christie's Leilões. 

- René Lalique, joalheiro e vidreiro francês, conhecido por transformar o vidro em arte, criando vasos e luminárias com padrões estilizados e translúcidos.

Imagem: René Lalique. Vaso em vidro. Coleção Museu Lalique.

Esses criadores transformaram o Art Déco em um fenômeno global. Cada um, à sua maneira, explorou os materiais da era industrial — vidro, aço, concreto e esmalte — e os converteu em obras que equilibravam técnica e beleza.

3. Como o Art Déco chegou ao Brasil & principais agentes nacionais

No Brasil, o movimento emergiu nas décadas de 1930 e 1940, adaptando-se aos materiais locais, às necessidades urbanas e ao ideal de modernidade nacional. A influência veio tanto da Europa quanto dos Estados Unidos, e rapidamente se espalhou por várias capitais. Entre os principais nomes ligados ao movimento estão:

- Victor Brecheret, escultor ítalo-brasileiro que incorporou as linhas simplificadas e volumetrias do Art Déco em suas obras monumentais. Como no "Monumento às Bandeiras", imagem no início do artigo.

- Vicente do Rego Monteiro, artista pernambucano que explorou o diálogo entre estética moderna europeia e temas da cultura brasileira.

Imagem: Vicente do Rego Monteiro. Deposição, 1966. Óleo sobre tela. 109 x 134 cm. Acervo MAC-USP.

- John Graz, artista suíço-brasileiro fundamental na introdução das formas geométricas e decoração moderna nos interiores paulistas.

Imagem: John Graz. O desembarque, 1936. Óleo sobre tela. 159 x 220,5 cm. Acervo Masp.

Nas cidades, o Art Déco deixou marcas visíveis:

- Goiânia, planejada nos anos 1930, é um dos maiores conjuntos arquitetônicos Art Déco do mundo.

Imagem: Estação Ferroviária de Goiânia.

- No Rio de Janeiro, o próprio Cristo Redentor:

4. Celebrando 100 anos: o legado do Art Déco hoje

Com o centenário, o Art Déco é celebrado como um dos estilos mais marcantes do século XX — um ponto de encontro entre arte, design e indústria. Ele moldou o imaginário moderno, influenciando desde a arquitetura até o cinema, a moda e a cultura visual urbana.

Cidades ao redor do mundo têm promovido roteiros e exposições para celebrar os 100 anos do Art Déco, destacando sua relevância atemporal. O estilo continua a inspirar designers contemporâneos que veem nele uma ponte entre o passado e o futuro — uma forma de arte que soube traduzir, com clareza e rigor, a beleza da modernidade.

No Brasil, o centenário também reacende o debate sobre preservação arquitetônica e memória cultural, convidando-nos a olhar para nossas cidades e reconhecer, nelas, o desenho de uma época que acreditava no poder da arte para transformar o mundo.

Conheça as peças de René Lalique no acervo da Arve