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O processo de criação de bancos indígenas: forma, técnica e simbolismo

A produção de bancos indígenas no Brasil é uma das mais sofisticadas expressões da arte tradicional de diversos povos originários. Esculpidos em madeira com ferramentas manuais e transmitidos por gerações dentro de uma cultura predominantemente oral, esses bancos não são apenas objetos de uso cotidiano — são também portadores de símbolos, cosmologias e sistemas sociais inteiros.

A escolha da madeira: matéria viva

Processo de criação de bancos indígenas

Foto: Aloisio Cabalzar / ISA

O processo começa com a escolha cuidadosa de um tronco de árvore. Em muitas comunidades, essa seleção é orientada por conhecimentos ancestrais sobre resistência, durabilidade, textura e significado da madeira. A extração é feita de forma respeitosa, muitas vezes aproveitando árvores já caídas ou autorizadas pelos anciãos. O banco será inteiramente esculpido a partir desse único bloco, sem emendas ou encaixes, o que exige precisão e domínio da técnica.

Esculpir é revelar

Processo de criação de bancos indígenas

Foto: Aloisio Cabalzar / ISA

A escultura é realizada com instrumentos simples, como facões, machados e goivas. O processo exige força e sensibilidade. Ao trabalhar a madeira, o artista indígena não impõe a forma — ele a revela. O banco vai sendo desbastado aos poucos, até que a figura animal escolhida comece a emergir: uma onça, um tamanduá, uma tartaruga, uma ave.

Cada animal carrega um sentido simbólico próprio, que varia conforme o povo. A onça, por exemplo, costuma estar associada à força e ao domínio do território; o tamanduá, à introspecção; as aves, à comunicação com o plano espiritual. A escolha da figura não é aleatória: ela pode refletir a posição social do usuário, sua função ritualística ou até seu nome.

Finalização: do gesto à superfície

Processo de criação de bancos indígenas

Foto: Aloisio Cabalzar / ISA

Depois de esculpido, o banco é lixado e tratado com técnicas tradicionais. Em alguns povos, utiliza-se cinza, fuligem, óleos vegetais ou pigmentos naturais para proteger e colorir a superfície. O acabamento confere unidade formal à peça, ao mesmo tempo em que realça a textura da madeira e as linhas da escultura.

O tempo total de produção varia de alguns dias a semanas, dependendo da complexidade da forma e da experiência do artesão. Cada banco é, portanto, uma obra singular, resultado de conhecimento acumulado, observação da natureza e transmissão intergeracional de saberes.

Função e permanência

Embora originalmente concebidos para uso cotidiano — como assento durante atividades ou rituais —, os bancos indígenas ocupam hoje também um lugar de destaque no campo da arte. Museus e colecionadores reconhecem nessas peças um equilíbrio raro entre utilidade, estética e simbolismo.

 

Preservar e valorizar esses bancos é reconhecer uma produção artística sofisticada e viva, profundamente enraizada nos modos de vida e no imaginário dos povos indígenas do Brasil.

Confira um vídeo sobre o processo

Processo de criação do banco indígena

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